sábado, abril 25, 2009

O 25 DE ABRIL ESTÁ MORTO

É isto que eu sinto, apesar de não ter presenciado esse dia. Racionalmente sei o que é o 25 de Abril, os acontecimentos, o significado, mas emocionalmente quando me lembro do feriado só sinto solenidade e reverência. Celebramos este dia todos os anos quase da mesma forma, com cerimónias, umas palavras aqui e ali. E o sentimento? E a experiência? Acho que ficou em 1974.

Somos um povo realmente saudosista que não consegue criar as suas próprias tradições a partir de eventos importantes do passado. Ficámos presos à lembrança desse dia, sobretudo quem o viveu. E os outros? Os outros sentem esse dia como mais um feriado não celebrado onde cada um pode fazer o que quiser. Sim, isso pode ser considerado liberdade, a liberdade conquistada em 74 mas não será sem dúvida uma celebração real desse dia. Desta forma, concluo que o 25 de Abril está mesmo morto.

Culpam as novas gerações de não saberem o que foi o 25 de Abril e do que representa, de não se preocuparem e não lhe darem importância. Na realidade a responsabilidade é de todos os que não conseguiram tornar o 25 de Abril numa festa, transmitindo para as gerações futuras a alegria de se ser livre. Não é preciso voltar a um Antigo Regime para que consigamos entender a expressão da liberdade

Portugal é solene, desunido, retraído, passivo, conservador e triste. Penso que cada um sente isso no fundo de nós próprios. À excepção dos Descobrimentos, sempre seguimos os outros povos, com uma reverência ridícula pelos “maiores”, beijando-lhes os pés em auto-comiseração. Só somos (aparentemente) felizes e unidos para os outros, menos para nós. E por isso é que dias especiais como o 25 de Abril são desprovidos de sentimento e sensações para a grande maioria dos portugueses porque são lembranças apenas e não experiências reais que se vivem anualmente.

Somos realmente cobardes por nesses dias não largarmos tudo e expressarmos o que de melhor temos. O 25 de Abril deveria ser celebrado como o Euro 2004, todos juntos em festa e com muita alegria.


As crianças deveriam estar desejosas pela chegada desse dia, para poderem ir festejá-lo para a rua com Portugal em peso, com cravos e outros momentos simbólicos mas festivos que criaríamos. Precisamos de criar e celebrar as nossas tradições com maior alegria e sentimento, só assim se deixa marca nas gerações futuras.

Não tenho dúvidas que é disso que precisamos, maior descontracção, espontaneidade, motivação, boa disposição, e contentamento para elevar a moral portuguesa, em especial agora nestes tempos mais difíceis. Mas continuamos agarrados à noção que exprime mais a nossa alma lusitana que é a de que os dias importantes são momentos de introversão, de seriedade, de silêncio como se estivéssemos numa marcha fúnebre de uma experiência demasiado fantástica para ser repetida.

Tenho pena que o 25 de Abril nos tenha dado um poder que não soubemos nem sabemos aproveitar.

Somos demasiado púdicos e associamos festa a desrespeito. Só assim se explica como no Dia de Todos os Santos em que tradicionalmente nos vestimos de preto, vamos à missa e visitamos os mortos no cemitério enquanto os mexicanos e povos da América Central festejam o dia nas ruas, com comida e doces, música, dança, máscaras e muita alegria. Isso para mim é que é celebração!

Mas, mais uma vez, isto não passa de palavras que escrevo. É esta é talvez a minha única forma de celebrar o 25 de Abril. Num dia em que liberdade de expressão deveria, na prática, ser muito mais do que poder falar e dizer o que pensamos.