É verdade, elas andam aí! E com elas uma onda de calor, de ataque e de raiva. Não é possível sobreviver a tais seres. Todos nós já fomos atacados mas, digo-vos, ninguém supera a terrível experiência que tenho vivido desde pequena. Elas entram na nossa vida sem aviso, intrometem-se no nosso sono, na nossa mente, elas tiram-nos a liberdade e o raciocínio. Não! Não tenho de suportar isto! Não tenho de continuar a viver assim! A luta já vai muito longa e, apesar de tudo, elas acabam sempre por ganhar.
Considero as melgas os seres mais egoístas, mesquinhos, astutos, desafiadores da minha vida. São elas que me oferecem uma dura batalha no meu próprio território. Se aparento estar mais velha é por causa das horas e horas de sono que durante uma vida inteira não me permitiram. Tenho sido sempre a vítima, mais do que outras pessoas. Até no Inverno elas me atacam. De certeza que tenho mais açúcar no sangue do que qualquer outra pessoa.
Na noite do massacre, acordei com 20 babas por todo o corpo. Elas andavam rejubilando-se pelo meu quarto. A ira foi destruidora. Matei-as todas em 10 minutos. Andei escondida do mundo por um mês até passarem as marcas.
Quantas vezes não me deito cansada procurando um repouso de 8 horas e, de repente, começo a ouvir aquele som inconfundível e irritante de um predador que se prepara para atacar a presa. O meu mal é que não consigo deixar-me ficar. Não aguento ignorar por mais que tente. Elas moem-me a cabeça até à última. Rondam-me até ao desespero, sabem que eu não estou a dormir, desejam o meu sangue e provocam-me para uma luta nocturna que se desenrola até às tantas.
Levanto-me impaciente, irritada e frustrada. Deixei tudo fechado, não acendi luz nenhuma e, mesmo assim, elas sentem tudo e vêm até mim sabe se lá por onde.
Plano de acção
Se me levanto, é para uma luta a sério.
Vou buscar os meus instrumentos de ataque e protecção: vassoura, spray insecticida e um chinelo (para um ataque mais directo).
1ª estratégia-Começo por inspeccionar o local, que parece que elas próprias conhecem melhor do que eu. Acendo a luz a muito esforço e os meus olhos ressentem-se. Com a vassoura em punho, procuro em todos os cantos algum rastos dos invasores em questão.
Resultado:- Nada. Aquelas criaturazinhas não são fáceis. Escondem-se bem escondidinhas.
2ª estratégia- Saio do quarto, abro as portas e janelas e todas as luzes da casa à excepção da do meu quarto, espero uns minutos... Volto ao meu quarto, fechando a porta.
Resultado- Consigo adormecer, elas não aparecem... por 15minutos.
3ª estratégia- Levanto-me revoltada. Pulverizo o meu quarto com insecticida e vou tentar dormir para a sala de estar.
Resultado- Elas conseguem de alguma forma seguir-me. Escapam-se ao insecticida e, passados 5 minutos, estão a atazanar-me a cabeça na sala de estar.
Fecho a porta da sala e dirijo-me para o meu quarto a correr para que elas fiquem presas na sala. Vou-me deitar, fechando a porta do meu quarto. Mas começo a fincar zonza (os efeitos do insecticida recaem sobre mim ).
Reparem como elas têm a capacidade de virar o feitiço contra o feiticeiro. São danadas! Eu não as subestimo.
Abro as janelas, deixo o efeito passar. Volto a deitar-me e passado 10 minutos, lá estão elas de novo. Aí, eu passo-me por completo...
4ª estratégia- No limiar da paciência, acendo a luz e fico deitada na cama, chinelo na mão, a olhar para cima.
Elas que venham! Isto tem de ser mesmo face to face.
Resultado- Finjo estar a dormir, elas aproximam-se, mexo-me um pouco e zumba...falho o alvo.
Quando elas são pequenas, ui, são terríveis, mal se vêem, escondem-se mais facilmente e são muito rápidas e ágeis. As maiores são gordas, cheias do sangue que me roubaram e movem-se mais lentamente. Neste caso, a batalha dura pouco tempo.
Mas a perseverança acaba por ganhar e eu levo a melhor, à 10ª tentativa mato-as.
Depois de uma noite de muito esforço, o cansaço físico e mental é enorme, caio na cama exausta e durmo as poucas horas que ainda me restam até ter de me levantar.
Meus amigos, gosto muito do Verão mas, assim, não há condições!