O Bem e o Mal
«O Bem é apenas um ponto de vista» Palpatine em Star Wars-episode III. Será que sim? Será que o que julgamos ser o Bem não passa apenas do nosso ponto de vista? Não será o Bem apenas aquilo que é bom para nós? Será que temos de praticar o Mal para saber o que é o Bem?
Sem dúvida que o magnífico episódio III, fez-me pensar muito e abanou os meus sistemas internos. Surpreendeu-me, sem dúvida, pela profundidade psicológica das personagens, pelo dramatismo a tocar a tragédia grega. E nunca um filme de ficção científica me tinha tocado tanto. Revi-me no filme, como acho que qualquer pessoa se revê pois a questão essencial do filme não é apenas a transformação de uma pessoa "boa" (Anakin) em "má" (Darth Vader), é muito mais que isso. Tem a ver com muita coisa por que todos nós humanos passamos na nossa existência: o facto de nos deixarmos levar pelas emoções, a dependência relativamente aos outros, os mal- entendidos, a busca da Verdade ou do Bem por caminhos errados, a verdadeira amizade, a tragédia de perder alguém que amamos, a traição (na amizade e no amor), o deixarmo-nos levar pela razão em vez do coração, o ser fiel aos nosso princípios independentemente do resto, as mudanças que ocorrem em nós próprios e na nossa maneira de pensar e de agir ao longo da vida. Todos estes aspectos e muitos outros são abordados neste episódio e de uma forma muito intensa pois existe uma ruptura. Realmente muita coisa que já fizemos no passado e julgámos correcto, sabemos agora que estava errado, o que nos garante que estamos do "lado correcto"? Estamos sempre a agir pelo que num dado momento julgamos que é o melhor para nós (mesmo que não o seja verdadeiramente) ou pelo que num dado momento nos dá mais prazer. Mesmo quando fazemos algo pelos outros, estamos no fundo a pensar no nosso bem, no prazer que nos dá, na nossa satisfação. Quer queiramos quer não, o que é verdaeiramente importante para nós somos nós mesmos. Tomando como exemplo o Anakin Skywalker, ele julgava estar a proceder bem ao tentar salvar a mulher da morte , mas no fundo ele queria fazê-lo apenas por si, não queria sofrer, não queria perdê-la. Nós somos assim também. Nós identificamo-nos com o Anakin, não os Jedis como o Obi-Wan ou o Yoda que quase que nascem ensinados, que caminham sempre do lado do Bem, que não passam por lutas interiores tão intensas e dramáticas, que têm a Verdade na ponta da língua, que são uma espécie de deuses controlados e estáveis, muito distantes dos padecimentos humanos. Mas não são heróis. Herói é o Anakin/Darth Vader e todos nós por termos de passar pelo Mal para saber o que é o Bem, por termos de sofrer para saber o que é o prazer, por termos de morrer para saber o que é viver. E quem no final consegue o equilíbrio do mundo? Não são os Jedis, mas o traidor arrependido, aquele que lutou pelo Bem, continuou a lutar pelo seu próprio Bem, pensando que estava no lado correcto e que, finalmente, olhou para trás, viu o que fez, viu a Verdade e tudo recompôs. Graças a Deus que somos imperfeitos e que temos a oportunidade de escolher dois caminhos! Não haveria dois caminhos se um deles não pudesse ser escolhido. Talvez afinal o Mal não seja assim tão mau e o Bem não seja assim tão bom...como alguns dizem.
Anakin/Darth Vader